Ontem tentando dormir
novamente recomeçou o penar
e nada consigo fazer,
senão permitir sem reclamar.
Ela a Consciência
e ele , o Coração
há anos disputam em mim
quem dos dois tem mais razão.
Diz ela cheia de marra
como se já soubesse de tudo
que não tem nada mais ridículo,
mais imbecil e estúpido
que julgar sentimentos platônicos
como se fossem plausíveis,
ou quem sabe até oportunos.
Ele modesto como sempre,
só se faz emoção
a qualquer palpitar mareja os olhos
e apenas sente, não quer explicação.
Ele sabe que há tempos
desistiu de compreender
esse louco sentimento
que o invade e derruba tudo que estiver pela frente
sem nem à porta bater.
A Consciência diz ser tão simples
e de fácil resolução:
- Se sentes declara e ponto!
Deixa de ser lerdo e medroso
Abre-te e aí então
fala tudo o que sente
e vê se vale a pena ou não!
O Coração sabe que isso
envolveria tantas coisas...
E que a mágoa abrangeria
Não só ele, mas outras pessoas.
Pede então à Consciência:
O que devo fazer então?
Ela pára, franze o cenho
E se põe a calcular.
Analisa datas, frases,
olhares,palavras soltas
pra tentar lhe ajudar.
Rapidamente idealiza:
-Mas que triste situação!
Isso deve ser entre duas pessoas
e não três , quatro , ou cinco...
Então fuma mais alguns cigarros,
bebe mais um pouco de vinho...
E decide que o Coração está louco,
e já tem tudo que precisa...
Pra que vai fuçar o passado
e revirar as cinzas
de algo tão intangível
que nem se sabe se realmente existiu?
Ele , acostumado à Consciência
sabendo que ela não resolve nada
respira fundo e boceja
e pede mais uma garrafa.
Diz à ela sem surpresas
que ela nunca entenderá a saga.
E bebendo sua cerveja
lhe diz que o amor
não precisa de escadas
ele se arma do que estiver a mão
e simplesmente se instala.
E eu com dor de cabeça já
cansada de tanta insensatez
me estresso e grito alto:
-Vamos dormir os três!
A Consciência faz birra,
mas logo vê que é o melhor...
O Coração só chora,
soluça que é de dar dó.
E mais uma vez, como há tanto tempo
não resolvem nada nunca...
Dormem os dois brigados
de birra, bunda com bunda,
e me deixam ali cansada,
exausta e novamente
sem resposta e atrapalhada.