quinta-feira, 15 de novembro de 2012

O Filho da Lua


Luares de antigos temores 
dos filhos de seus descendentes
dos deuses dos raios noturnos
surgiram efeitos cedentes.
De amores então contemplados
sob o luar imponente
surgiu o filho da Lua
banhado na luz complacente.
Amado de Zeus , de Posseidon
carinho obscuro de Ártemis,
o filho da Lua tornou-se
a bênção dos homens de carne.
Cuidado e quimera em zelo
trazidos ditames de outrora
pareciam enredar os desejos
da inveja dos filhos de agora.
Não foi a lança a ferir-lhe,
não foi o fogo a queimar-lhe
foi o coração já banido
que o fez desfazer-se em pedaços.
Pedaços da alma tão pura
singela e repleta de afagos
que por vezes inebriava
o brilho da Lua de fato.
Do néctar dos deuses
quimeras de além mar
restaram apenas lembranças
de um elo a se procurar...
Do filho da Lua restou
o penar de seus últimos dias
as gotas brilhantes do choro,
da angústia por ele sentida.
Os deuses penderam-nas todas
no céu tão escuro e profundo
e as lágrimas do filho da Lua
refletem hoje as dores do mundo...


Daniela Reis

INFÂNCIA






Acordar
um ato célebre
bem em meio ao arvoredo...
Na casa velha de madeira
com cheiro de infância,
com cheiro de passado,

com cheiro de inocência.
Da época em que achava
que os bebês vinham do banhado
me atolava dias inteiros
procurando os pequenos no barro.
Sei lá eu quem me contou
mas enfim,acreditei,
queria pra mim um gurizinho
pra brincar, pra cuidar,
que boba eu...
Acreditava também
no lobo da lua cheia
que a bisa me contava
em histórias de dar arrepios,
em noites de tanto frio
em volta do fogo altivo
em que as chamas crepitavam.
Lembro-me bem da bisa
a quem eu chamei de vó
fazendo-me biscoitinhos
e contando histórias
relembrando sonhos
de um passado recente
porém só.
Que ela passou criando
os muitos filhos que tivera
enquanto meu biso tropeava
em viagens de longa espera.
Mulher forte,
dura lida
dia a dia foi lutando
uma casa, oito filhos,
quando em quando desabando.
Minha infância foi marcada
por imagens isoladas,
a volta do campo,
o café,
cheiro tão bom,
o pãozinho com queijada.
Amanhecer no arvoredo
após vários,
tantos anos
é enriquecer o meu espírito
que hoje entendo,
foi mudando...
Na casa velha de madeira
onde aprendi cevar o mate,
onde a vó ensinou-me
a coser nos fins de tarde
pude sorrir
e transcender...
Pude aceitar a minha essência.
Pois se sou hoje
fibra,porte,
esforço,caminho, cadência,
é porque vivi das coisas simples
e tive o bem por excelência.
Acordei pra meus amores
acordei pra meus viveres,
percebi no arvoredo
o passado e o futuro
enlaçados no compasso
do afã de meus quereres.

Daniela Reis