quinta-feira, 15 de novembro de 2012

INFÂNCIA






Acordar
um ato célebre
bem em meio ao arvoredo...
Na casa velha de madeira
com cheiro de infância,
com cheiro de passado,

com cheiro de inocência.
Da época em que achava
que os bebês vinham do banhado
me atolava dias inteiros
procurando os pequenos no barro.
Sei lá eu quem me contou
mas enfim,acreditei,
queria pra mim um gurizinho
pra brincar, pra cuidar,
que boba eu...
Acreditava também
no lobo da lua cheia
que a bisa me contava
em histórias de dar arrepios,
em noites de tanto frio
em volta do fogo altivo
em que as chamas crepitavam.
Lembro-me bem da bisa
a quem eu chamei de vó
fazendo-me biscoitinhos
e contando histórias
relembrando sonhos
de um passado recente
porém só.
Que ela passou criando
os muitos filhos que tivera
enquanto meu biso tropeava
em viagens de longa espera.
Mulher forte,
dura lida
dia a dia foi lutando
uma casa, oito filhos,
quando em quando desabando.
Minha infância foi marcada
por imagens isoladas,
a volta do campo,
o café,
cheiro tão bom,
o pãozinho com queijada.
Amanhecer no arvoredo
após vários,
tantos anos
é enriquecer o meu espírito
que hoje entendo,
foi mudando...
Na casa velha de madeira
onde aprendi cevar o mate,
onde a vó ensinou-me
a coser nos fins de tarde
pude sorrir
e transcender...
Pude aceitar a minha essência.
Pois se sou hoje
fibra,porte,
esforço,caminho, cadência,
é porque vivi das coisas simples
e tive o bem por excelência.
Acordei pra meus amores
acordei pra meus viveres,
percebi no arvoredo
o passado e o futuro
enlaçados no compasso
do afã de meus quereres.

Daniela Reis

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